ABISSAL
Oferenda de penumbras aos olhos e um mergulho sônico por entre imagens reveladas pelos ouvidos do corpo todo. Omi, Emi, Ori. Água, hálito e cabeça bioluminescente. Ossos, fosseis, ancestrais sepultados no oceano. Ressoar suas vozes. Ouça o chamado e desadormeça comigo.
ABISSAL é aparição sônica — parte da pesquisa “Estudos Para Uma Voz que (H)ouve (escuta es cura)” — (des)orientada pelas percepções de escuridão, profundidade, germinação, vozes, frequências do mundo natural e eletrônico, propriedades do som enquanto elemento de transformação psicofísica, trans-espécies e de criação de mundos. É também um processo de reconfiguração estrutural da produção de imagens e narrativas; uma rasgadura no regime da visualidade para a criação de mundos sinestésicos enevoando e escurecendo as vistas, amplificando e convidando ao jogo perceptivo os sentidos, para além de um ocularcentrismo. O corpo exposto, aberto, em jorro, atravessado, agora se configura como escuro profundo, blecaute, vozes esculpindo labirintos no tempo, desorienta as perspectivas, convoca a vista turva, torna-se espaço sônico denso em simbiose com criaturas impossíveis.
“Meu instrumento está se aprofundando e ampliando; é porque sou possuidora do espírito (...) Sou possuída pelo meu próprio espírito/Esta é a música da musa africana/Só quero ser útil aos meus antepassados/É um trabalho sagrado e é perigoso não saber disso porque você poderia morrer como um animal aqui embaixo” (Abbey Lincoln)